O “Caso Castelinho” foi uma ação da Polícia Militar no ataque ao ônibus dos supostos integrantes da facção criminosa do Primeiro Comando da Capital ( PCC ), em março de 2002, na rodovia Castelo Branco, acesso a cidade de Sorocaba.
A ação resultou na morte de 12 bandidos que estavam no interior do ônibus e, segundo a denúncia de um preso, teria sido preparada pela polícia para melhorar a imagem do governo.
Os assassinatos foram produto de uma ação coordenada da Justiça, do governo paulista e do comando da Polícia Militar.
O promotor criminal, na época, Amaury Arfelli, disse que uma das fitas com imagens da ação da Polícia Militar, foi apagada para ser reutilizada pela concessionária Viaoeste.
A filmagem foi feita a partir da câmara instalada sobre uma torre de mais de 15 metros e teria colhido imagens da chegada do comboio do PCC ao pedágio na rodovia e o fim da operação policial, depois que o ônibus estava parado.
A Federação Interamericana de Direitos Humanos admitiu que o “Caso Castelinho” viola vários artigos da comissão, dentre os quais os que prevêem o direito à vida e o direito à proteção judicial.
Esse é mais um ato emblemático de violência policial e impunidade, assim como o Massacre do Carandiru, do Eldorado de Carajás e da Candelária.
Hoje em dia, porém, o silêncio do mandato ético é mais ensurdecedor que nunca. Esse mandato instiga e dirige secretamente as “expressões soberanas da vida”.
É como no livro Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, que mostra através das reações do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono. Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja”…
O direito do mais forte, mais astuto, engenhoso ou ardiloso de fazer o possível para sobreviver aos mais fraco e desafortunado é uma das lições mais horripilantes do Holocausto.
O medo do desconhecido, busca desesperadamente escoadouros confiáveis. As ansiedades acumuladas tendem a ser descarregadas sobre os “forasteiros”, eleitos para exemplificar a “estranheza”, a falta de familiaridade, a opacidade do ambiente de vida, a imprecisão do risco e da ameaça em si.
Um aspecto paira sobre o planeta: o espectro da xenofobia. Suspeitas e animosidades tribais, antigas e novas, jamais extintas, misturaram-se a uma nova preocupação, a da segurança, da vigilância constante e das incertezas e intranqülidades.
O advento do Estado moderno coincidiu com a emergência das “pessoas sem Estado”, a reencarnação mais recente do Homo sacer, derradeira personificação do direito soberano de destacar e excluir qualquer ser humano, onde as leis não se aplicam e cuja destruição não acarreta punições, despida que é de qualquer significado ético ou religioso.
A derradeira sanção do poder soberano moderno resultou no direito de exclusão da humanidade.
Fernanda Batista Nicola.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Omissão também forma opinião
Nas últimas eleições presidenciais ocorreu um fenômeno que não era previsto pelos institutos de pesquisa e nem pelas inúmeras análises políticas. A mídia, que tinha polarizado o resultado do plebiscito entre os candidatos José Serra e Dilma Rousseff, ficou surpresa com o desempenho de Marina Silva nas urnas após o primeiro turno.
A então candidata do PV recebeu 20% dos votos (os institutos indicaram metade desta quantia em intenções de voto antes do pleito) e venceu em cidades como Brasília e Belo Horizonte. Este fator por si só despertou a curiosidade de jornalistas e analistas de plantão que, na busca por uma causa, sinalizaram que tamanho apoio veio de eleitores que consideram a religião fator preponderante.
Marina pertence à igreja Assembleia de Deus e, ao contrário dos demais postulantes, tinha uma visão religiosa muito bem definida (contra aborto, união homoafetiva etc.), e sendo o Brasil um país religioso, apesar de laico, a equação montada em torno dos resultados foi contundente: Marina teve apoio dos evangélicos, que são 10% dos 15,6% de protestantes na população brasileira.
É curioso notar que esta associação foi realizada com base na característica mais primária e de cunho pessoal da candidata, que na verdade teve seu programa político apoiado na questão ambiental e não na religião. Por esta premissa, todos os evangélicos votaram em Marina que, como não conseguiram elegê-la no primeiro turno, tiveram que decidir entre Dilma e Serra.
A partir desse quadro, os presidenciáveis correram em busca do apoio desta população, antes ignorada nas discussões. Os meios de comunicação forneceram o pano de fundo para o “debate” sobre o aborto, a união civil entre homossexuais e a adoção de crianças por casais homoafetivos – não que isso estivesse de fato em suas pautas, mas foi oportuno para os candidatos.
Estes assuntos são extremamente delicados, pois nos pólos estão pessoas com argumentos contundentes sobre os assuntos e, no meio, a população se divide claramente entre apoiadores de um lado ou de outro. Em todos esses temas os religiosos, e acima de tudo evangélicos, saem da mera opinião e agem politicamente no Legislativo.
No caso de José Serra, que recebeu apoio de Fernando Henrique, ateu declarado, seu discurso passou a ser paralelo a passagens da Bíblia, como demonstra matéria divulgada no G1 ao descrever um evento evangélico em Santa Catarina: “O tucano lembrou uma passagem na qual os evangelistas apontam Jesus como fonte de vida em abundância e relacionou esse princípio cristão com os cuidados com a saúde. ‘Nós combatemos o tabagismo, o cigarro. Por quê? Porque faz mal a saúde’". Na mesma matéria, ele fez um apelo: “Peçam que Ele me dê sabedoria para enfrentar as batalhas daqui por diante. Todas elas voltadas ao progresso do país".
Dilma Rousseff, por sua vez, se comprometeu à causa evangélica através de declarações e da “Carta ao Povo de Deus”, documento pelo qual ela defenderia a família e prometeria não espichar a polêmica sobre aborto e união civil entre homossexuais. Em matéria n’O Estado de S. Paulo, ocorreu a seguinte descrição: “Disposta a cativar todas as denominações cristãs, ela observa que a miséria e as distorções sociais têm "o dedo imperfeito do homem, e não o desígnio de um Deus perfeito’". No caso da petista, este documento não foi a termo devido às pressões de outros setores e da “saia-justa” na qual ela se colocaria por expor demais a sua credibilidade política, explorada em uma capa da revista Veja.
Na publicação em questão, de 13 de outubro de 2010, a capa colocava em contraste duas citações da candidata, uma como ministra em 2007, na qual defendia a legalização do aborto e outra declaração, já como candidata, defendendo o oposto. Se as pessoas mudam de ideia, isso é fato, mas a situação de Dilma não parecia caber nesse quadro.
Assim, cada um assimilou da sua forma o que Marina Silva parecia representar, e ávidos por apoio ao lado de pastores e padres - não podemos esquecer que a igreja católica também atuou de forma ostensiva – empobreceram tanto o sentido das questões que estavam debatendo como o significado da fé e a importância de outros grupos da sociedade. No caso dos gays, o Grupo Gay da Bahia, organização mais antiga neste segmento, afirma que 10% da população brasileira seja homossexual. Este dado, somado ainda com falhas em eventuais pesquisas, seja pela deficiência técnica e resistência cultural para expor o assunto, pode levar este número para ainda mais.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de um milhão de abortos clandestinos são realizados nos Brasil. O que um governante diria a essa população, que sem perspectiva econômica e, em sua maioria, de maneira precoce matam ou morrem em demasia? Caso não abortassem, o Estado daria quais garantias a ela? A mídia não entrou na pauta.
Casos como esse descrevem que os meios de comunicação contribuem para a formação da opinião pública mesmo quando não se manifesta, se fazem “neutros”, resumindo-se a apenas descrever. É muito comum apontarmos casos em que a mídia toma a frente das discussões. Mas a exemplo destas últimas eleições, ela fechou os olhos, contribuindo para a formação da opinião pública, que neste caso foi: manter o status quo.
A omissão permitiu que os candidatos se degladiassem, revelando uma característica cruel do processo eleitoral, o poder a qualquer preço, ás custas da ética. Se essa não era a agenda oficial, perdeu-se mesmo assim um momento de reflexão em meio a um processo tão sensível quanto as eleições.
O que sobreviveu incólume após este capítulo, foi o peso adquirido pelas camadas religiosas e sua importância no discurso social que, em tese, é público. Não sem isso, jovens foram recentemente agredidos de maneira torpe no Rio e em São Paulo por razão de homofobia e mulheres continuam a realizar abortos de maneira clandestina.
Os sintomas persistentes na cobertura dos meios de comunicação em suas análises são a agitações em torno dos assuntos, a inquietação, defesas e ataques furiosos das partes envolvidas e, por fim, o caráter inconclusivo, como se os problemas sociais desaparecessem como brasas no escuro.
A então candidata do PV recebeu 20% dos votos (os institutos indicaram metade desta quantia em intenções de voto antes do pleito) e venceu em cidades como Brasília e Belo Horizonte. Este fator por si só despertou a curiosidade de jornalistas e analistas de plantão que, na busca por uma causa, sinalizaram que tamanho apoio veio de eleitores que consideram a religião fator preponderante.
Marina pertence à igreja Assembleia de Deus e, ao contrário dos demais postulantes, tinha uma visão religiosa muito bem definida (contra aborto, união homoafetiva etc.), e sendo o Brasil um país religioso, apesar de laico, a equação montada em torno dos resultados foi contundente: Marina teve apoio dos evangélicos, que são 10% dos 15,6% de protestantes na população brasileira.
É curioso notar que esta associação foi realizada com base na característica mais primária e de cunho pessoal da candidata, que na verdade teve seu programa político apoiado na questão ambiental e não na religião. Por esta premissa, todos os evangélicos votaram em Marina que, como não conseguiram elegê-la no primeiro turno, tiveram que decidir entre Dilma e Serra.
A partir desse quadro, os presidenciáveis correram em busca do apoio desta população, antes ignorada nas discussões. Os meios de comunicação forneceram o pano de fundo para o “debate” sobre o aborto, a união civil entre homossexuais e a adoção de crianças por casais homoafetivos – não que isso estivesse de fato em suas pautas, mas foi oportuno para os candidatos.
Estes assuntos são extremamente delicados, pois nos pólos estão pessoas com argumentos contundentes sobre os assuntos e, no meio, a população se divide claramente entre apoiadores de um lado ou de outro. Em todos esses temas os religiosos, e acima de tudo evangélicos, saem da mera opinião e agem politicamente no Legislativo.
No caso de José Serra, que recebeu apoio de Fernando Henrique, ateu declarado, seu discurso passou a ser paralelo a passagens da Bíblia, como demonstra matéria divulgada no G1 ao descrever um evento evangélico em Santa Catarina: “O tucano lembrou uma passagem na qual os evangelistas apontam Jesus como fonte de vida em abundância e relacionou esse princípio cristão com os cuidados com a saúde. ‘Nós combatemos o tabagismo, o cigarro. Por quê? Porque faz mal a saúde’". Na mesma matéria, ele fez um apelo: “Peçam que Ele me dê sabedoria para enfrentar as batalhas daqui por diante. Todas elas voltadas ao progresso do país".
Dilma Rousseff, por sua vez, se comprometeu à causa evangélica através de declarações e da “Carta ao Povo de Deus”, documento pelo qual ela defenderia a família e prometeria não espichar a polêmica sobre aborto e união civil entre homossexuais. Em matéria n’O Estado de S. Paulo, ocorreu a seguinte descrição: “Disposta a cativar todas as denominações cristãs, ela observa que a miséria e as distorções sociais têm "o dedo imperfeito do homem, e não o desígnio de um Deus perfeito’". No caso da petista, este documento não foi a termo devido às pressões de outros setores e da “saia-justa” na qual ela se colocaria por expor demais a sua credibilidade política, explorada em uma capa da revista Veja.
Na publicação em questão, de 13 de outubro de 2010, a capa colocava em contraste duas citações da candidata, uma como ministra em 2007, na qual defendia a legalização do aborto e outra declaração, já como candidata, defendendo o oposto. Se as pessoas mudam de ideia, isso é fato, mas a situação de Dilma não parecia caber nesse quadro.
Assim, cada um assimilou da sua forma o que Marina Silva parecia representar, e ávidos por apoio ao lado de pastores e padres - não podemos esquecer que a igreja católica também atuou de forma ostensiva – empobreceram tanto o sentido das questões que estavam debatendo como o significado da fé e a importância de outros grupos da sociedade. No caso dos gays, o Grupo Gay da Bahia, organização mais antiga neste segmento, afirma que 10% da população brasileira seja homossexual. Este dado, somado ainda com falhas em eventuais pesquisas, seja pela deficiência técnica e resistência cultural para expor o assunto, pode levar este número para ainda mais.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de um milhão de abortos clandestinos são realizados nos Brasil. O que um governante diria a essa população, que sem perspectiva econômica e, em sua maioria, de maneira precoce matam ou morrem em demasia? Caso não abortassem, o Estado daria quais garantias a ela? A mídia não entrou na pauta.
Casos como esse descrevem que os meios de comunicação contribuem para a formação da opinião pública mesmo quando não se manifesta, se fazem “neutros”, resumindo-se a apenas descrever. É muito comum apontarmos casos em que a mídia toma a frente das discussões. Mas a exemplo destas últimas eleições, ela fechou os olhos, contribuindo para a formação da opinião pública, que neste caso foi: manter o status quo.
A omissão permitiu que os candidatos se degladiassem, revelando uma característica cruel do processo eleitoral, o poder a qualquer preço, ás custas da ética. Se essa não era a agenda oficial, perdeu-se mesmo assim um momento de reflexão em meio a um processo tão sensível quanto as eleições.
O que sobreviveu incólume após este capítulo, foi o peso adquirido pelas camadas religiosas e sua importância no discurso social que, em tese, é público. Não sem isso, jovens foram recentemente agredidos de maneira torpe no Rio e em São Paulo por razão de homofobia e mulheres continuam a realizar abortos de maneira clandestina.
Os sintomas persistentes na cobertura dos meios de comunicação em suas análises são a agitações em torno dos assuntos, a inquietação, defesas e ataques furiosos das partes envolvidas e, por fim, o caráter inconclusivo, como se os problemas sociais desaparecessem como brasas no escuro.
Como na era do Império é possível construir um projeto político para a Multidão?
O Império é a governança do sistema capitalista, é a ressignificação do controle sobre as pessoas. Então, a Multidão é a formação por todos aqueles que trabalham sobre o domínio do capital, e assim ocorre uma reação/crise a esse sistema. A Multidão produz a capacidade de tomar suas próprias decisões, o que permite pensar um projeto democrático que não se reduza à noção de revolução por uma vanguarda e um partido ideologicamente organizado.
Um aspecto da reinvenção atual da democracia é a necessidade de destruir a separação entre o social e o político (sociedade civil e o Estado).
Para a Multidão, um projeto político seria recuperar a capacidade de nos reconhecer nos processos, métodos e sistemas que construímos para a nossa própria existência (institucionalização da vida – Biopolítica). Toda a relação humana tem que ser construída, e os aparelhos ideológicos (repressivos) do Estado impedem as mudanças.
O ideal coletivo é a condição que garante a construção dos indivíduos, porque o homem não é uma ilha. E estar junto nessa sociedade passa pela mídia. A comunicação é inevitável entre os seres. Por isso a sociedade atual tenta criar um espaço público fora da mídia, porque ela se tornou semelhante a um partido político, onde não existe neutralidade.
Os meios de comunicação viabilizam o intercâmbio da organização da Multidão (interação individual x sociedade). Daí o Blog ser uma subversão da ordem do jornalismo tradicional.
Como a cultura continua captando influências, absorvendo as tradições e criando novidades, a partir dessa cultura o homem conseguiria estabelecer a sua sociedade. Mas a cultura de massa faz com que o homem acabe se destituindo daquilo que lhe faz homem, e os mecanismos de controle são revertidos para os meios de resistência.
A mídia impõe um bloqueio na comunicação. Um exemplo é o que acontece com as formigas quando de repente a sua trilha é obstruída, elas por um momento ficam desorientadas e parecem se dispersar, mas depois de um tempo, devido a um rastro químico deixado por elas, ocorre novamente a organização e elas voltam a formar a mesma trilha e continuam prosseguindo com a leva da comida.
Por isso a pergunta: “Que tipo de arma é possível estabelecer frente a quem te oprime?”
A cultura política dentro da Multidão indica uma organização social definida pela capacidade de agir em conjunto, mas sem qualquer unificação. O homem, quando oprimido, vai procurar o limite para a sua sustentabilidade, atender as suas necessidades, os bens necessários para produzir a sua subsistência.
A Biopolítica – na ameaça a vida, o valor de desejo é reelaborado/ a sobrevivência e a potencialização da vida. Hoje, vivemos um pacto social com o fim da sociedade, porque não existe mais sociedade, existem somente indivíduos.
No livro Amor Líquido, o autor Zygmunt Bauman fala sobre a modernidade em que vivemos e sua misteriosa fragilidade dos laços humanos. A insegurança inspirada por essa condição estimula desejos conflitantes de estreitar esses laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos.
Uma das ações que contribuiriam para a construção do projeto político para a Multidão é fazer com que o discurso ganhe coerência, mesmo sendo feito de várias outras vozes, quando é trabalhado de tal forma pelo locutor que escolhe organizá-lo de uma maneira particular, única, pessoal.
Isso significa que organizar um discurso é limitar o caos, controlar a desordem; logo o discurso é polifônico (várias vozes), mas pelo seu princípio de autor se finge monológico (uma voz).
O ideal que inspira os jornalistas vem da Revolução Francesa – “todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido”. O jornalista é vítima de uma estrutura invisível, e devido ao fator tempo, torna inviável a construção de um texto mais profundo. Passa a ser controlado pela Blogosfera (crítica da mídia) e pelos Observatórios da Imprensa.
Hoje, é exigido do jornalista um compromisso mais ético e trazer à tona a história oral e dar voz “aos excluídos” (exemplos: mulheres, excepcionais, gays, jovens etc.). Uma boa iniciativa é o Wikimapa, um mapa virtual geo-referenciado de ações e ativos, alimentado de forma colaborativa pelos mais diversos participantes, por meio do telefone celular ou internet.
O diferencial do projeto é o mapeamento de ruas e vielas de comunidades de baixa renda – até então não realizado pelos serviços de pesquisa e visualização de mapas na internet – além do mapeamento de ativos dessas comunidades, realizado pelos próprios moradores.
Nós deveríamos fazer como as formigas, que quando encontra no caminho uma companheira morta, a carrega de volta para o formigueiro. O homem deixou de ter um laço mais humano, devido à banalização da vida, mas ainda encontra vontade para melhorar o planeta para as gerações futuras.
Contradição ou é difícil mesmo de entender esse bicho homem? Essa pergunta pode ser respondida entendendo melhor o nosso passado e reconhecer que nossa continuidade em relação a determinadas tradições podem ajudar a encontrar o caminho correto.
Um aspecto da reinvenção atual da democracia é a necessidade de destruir a separação entre o social e o político (sociedade civil e o Estado).
Para a Multidão, um projeto político seria recuperar a capacidade de nos reconhecer nos processos, métodos e sistemas que construímos para a nossa própria existência (institucionalização da vida – Biopolítica). Toda a relação humana tem que ser construída, e os aparelhos ideológicos (repressivos) do Estado impedem as mudanças.
O ideal coletivo é a condição que garante a construção dos indivíduos, porque o homem não é uma ilha. E estar junto nessa sociedade passa pela mídia. A comunicação é inevitável entre os seres. Por isso a sociedade atual tenta criar um espaço público fora da mídia, porque ela se tornou semelhante a um partido político, onde não existe neutralidade.
Os meios de comunicação viabilizam o intercâmbio da organização da Multidão (interação individual x sociedade). Daí o Blog ser uma subversão da ordem do jornalismo tradicional.
Como a cultura continua captando influências, absorvendo as tradições e criando novidades, a partir dessa cultura o homem conseguiria estabelecer a sua sociedade. Mas a cultura de massa faz com que o homem acabe se destituindo daquilo que lhe faz homem, e os mecanismos de controle são revertidos para os meios de resistência.
A mídia impõe um bloqueio na comunicação. Um exemplo é o que acontece com as formigas quando de repente a sua trilha é obstruída, elas por um momento ficam desorientadas e parecem se dispersar, mas depois de um tempo, devido a um rastro químico deixado por elas, ocorre novamente a organização e elas voltam a formar a mesma trilha e continuam prosseguindo com a leva da comida.
Por isso a pergunta: “Que tipo de arma é possível estabelecer frente a quem te oprime?”
A cultura política dentro da Multidão indica uma organização social definida pela capacidade de agir em conjunto, mas sem qualquer unificação. O homem, quando oprimido, vai procurar o limite para a sua sustentabilidade, atender as suas necessidades, os bens necessários para produzir a sua subsistência.
A Biopolítica – na ameaça a vida, o valor de desejo é reelaborado/ a sobrevivência e a potencialização da vida. Hoje, vivemos um pacto social com o fim da sociedade, porque não existe mais sociedade, existem somente indivíduos.
No livro Amor Líquido, o autor Zygmunt Bauman fala sobre a modernidade em que vivemos e sua misteriosa fragilidade dos laços humanos. A insegurança inspirada por essa condição estimula desejos conflitantes de estreitar esses laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos.
Uma das ações que contribuiriam para a construção do projeto político para a Multidão é fazer com que o discurso ganhe coerência, mesmo sendo feito de várias outras vozes, quando é trabalhado de tal forma pelo locutor que escolhe organizá-lo de uma maneira particular, única, pessoal.
Isso significa que organizar um discurso é limitar o caos, controlar a desordem; logo o discurso é polifônico (várias vozes), mas pelo seu princípio de autor se finge monológico (uma voz).
O ideal que inspira os jornalistas vem da Revolução Francesa – “todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido”. O jornalista é vítima de uma estrutura invisível, e devido ao fator tempo, torna inviável a construção de um texto mais profundo. Passa a ser controlado pela Blogosfera (crítica da mídia) e pelos Observatórios da Imprensa.
Hoje, é exigido do jornalista um compromisso mais ético e trazer à tona a história oral e dar voz “aos excluídos” (exemplos: mulheres, excepcionais, gays, jovens etc.). Uma boa iniciativa é o Wikimapa, um mapa virtual geo-referenciado de ações e ativos, alimentado de forma colaborativa pelos mais diversos participantes, por meio do telefone celular ou internet.
O diferencial do projeto é o mapeamento de ruas e vielas de comunidades de baixa renda – até então não realizado pelos serviços de pesquisa e visualização de mapas na internet – além do mapeamento de ativos dessas comunidades, realizado pelos próprios moradores.
Nós deveríamos fazer como as formigas, que quando encontra no caminho uma companheira morta, a carrega de volta para o formigueiro. O homem deixou de ter um laço mais humano, devido à banalização da vida, mas ainda encontra vontade para melhorar o planeta para as gerações futuras.
Contradição ou é difícil mesmo de entender esse bicho homem? Essa pergunta pode ser respondida entendendo melhor o nosso passado e reconhecer que nossa continuidade em relação a determinadas tradições podem ajudar a encontrar o caminho correto.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Alguns pontos sobre o capitalismo contemporâneo
Não é à toa que ainda haja sindicatos trabalhistas que briguem pelos direitos dos trabalhadores, como ,por exemplo, a redução da jornada de trabalho. Caso não existissem, aquilo que permeia as relações de trabalho estaria com um grau de exploração ainda maior. Enquanto respostas do sistema de capital em torno da realização de seu constante desejo de obtenção de lucro, a reestruturação produtiva e o neoliberalismo produziram resultados: o desemprego estrutural, precarização e desregulamentação do trabalho, que revelam um fortalecimento da exploração da força de trabalho. Elevadas taxas de desemprego e subemprego convivem com o avanço da informalidade e da precarização. Deste modo podemos ver que a partir das mudanças de algumas das transformações do trabalho, como aquele que é informal, ocasionaram um acento na própria lógica de exploração, uma vez que a ausência de políticas públicas que legitimem os direitos desses trabalhadores contribui para que estes fiquem independentes de qualquer ajuda: ora os trabalhadores informais produzem, ora não terão como viver. Outro exemplo disso são as empregadas domésticas que, cada vez mais, aparecem no cenário da exploração. Muitas, também como trabalhadoras informais, fazem uma jornada de trabalho abusiva sem que haja qualquer lei ou intermediação pública para garantir-lhes os direitos. Sem a opção de outro emprego, colada à necessidade de ganhar dinheiro, elas se submetem a um trabalho que, em outros tempos, era considerado escravo.
Grudada direta ou indiretamente à exploração do trabalho, temos a reificação da mão de obra, que nada mais é que a coisificação dos trabalhadores. Como exemplo, podemos apontar, ainda no trabalho informal, o grande número de garotas de programa menores de idade em algumas capitais brasileiras. Essas meninas são consideradas como objetos; elas não têm qualquer tipo de assistência que garantam o seu bem estar, nem estruturas familiares, educacionais e financeiras que lhes garantam boas condições de vida. Assim, caem em um território onde seus corpos são seus meios de sobrevivência – uma vez que têm “clientes” interessados.
Atualmente, nos vemos imersos em uma espécie de normalidade no cumprimento de normas. Regras que são feitas para que não nos rebelemos e que contribuem diretamente para a nossa própria alienação. Cada vez mais, segundo o filósofo Gilles Deleuze, saímos da sociedade disciplinar e entramos na de controle. Inúmeras formas são elaboradas para que sejamos monitorados; muitas vezes, no sentido mais literal possível. Não é à toa que milhares de câmeras de segurança estão, cada vez mais, presentes no cotidiano – e, cada vez mais, isso deixa de ser estranho.
Uma maneira bastante evidente de constatar a alienação que nos é incitada atualmente é através das mídias de massa. Tv, rádio, internet são meios por onde a informação deixa de ser algo que “contribui” para o posicionamento crítico das pessoas; pelo contrário, programas, músicas ou sites são formulados de um modo que, no momento da “distração”, caíamos em uma acentuação da própria alienação. Ou seja, no momento em que se poderia escapar das ondas sufocantes e homogeinizadoras que vivemos na rotina capitalista, acabamos por ressaltar a ignorância e a inação que este sistema deseja que tenhamos.
Talvez seja os fetiches de mercadorias que sustentem tanto não apenas a indústria capitalista, como também as relações humanas na contemporaneidade. O capitalismo, querendo ou não, não está presente apenas na economia das trocas de mercadorias; infelizmente, ele está, também, no interstício das relações. Humanos são, cada vez mais, tratados como mercadorias. Nesse contexto, o sociólogo Zigmunt Bauman é um dos que estuda os desdobramentos do capitalismo hoje. Um dos termos por ele utilizados é de que as relações, atualmente, encontram-se em um estado líquido. Ou seja, a fluidez é tão forte que as relações não duram: tudo é tratado como mercadoria, se algo não dá certo, simples, troca-se o “produto”.
A indústria cultural, com isso, na qual se baseiam as trocas simbólicas (como estuda outro sociólogo, Pierre Bourdieu), tem um papel bastante significativo quando o assunto diz respeito à alienação. A era da sociedade do espetáculo (aquilo que o situacionista Guy Debord já premeditara na segunda metade do século passado), está, gradualmente, tomando presença na produção cultural, e conseqüentemente na subjetividade das pessoas. Isso, deste modo, alimenta um circulo vicioso, em que instiga-se, cada vez mais, a produção de bens simbólicos que, ao invés de mostrarem uma outra possibilidade da realidade, acaba por fortalecer os limites espinhosos, mas confortáveis, da alienação aclamada pela lógica capitalista.
Grudada direta ou indiretamente à exploração do trabalho, temos a reificação da mão de obra, que nada mais é que a coisificação dos trabalhadores. Como exemplo, podemos apontar, ainda no trabalho informal, o grande número de garotas de programa menores de idade em algumas capitais brasileiras. Essas meninas são consideradas como objetos; elas não têm qualquer tipo de assistência que garantam o seu bem estar, nem estruturas familiares, educacionais e financeiras que lhes garantam boas condições de vida. Assim, caem em um território onde seus corpos são seus meios de sobrevivência – uma vez que têm “clientes” interessados.
Atualmente, nos vemos imersos em uma espécie de normalidade no cumprimento de normas. Regras que são feitas para que não nos rebelemos e que contribuem diretamente para a nossa própria alienação. Cada vez mais, segundo o filósofo Gilles Deleuze, saímos da sociedade disciplinar e entramos na de controle. Inúmeras formas são elaboradas para que sejamos monitorados; muitas vezes, no sentido mais literal possível. Não é à toa que milhares de câmeras de segurança estão, cada vez mais, presentes no cotidiano – e, cada vez mais, isso deixa de ser estranho.
Uma maneira bastante evidente de constatar a alienação que nos é incitada atualmente é através das mídias de massa. Tv, rádio, internet são meios por onde a informação deixa de ser algo que “contribui” para o posicionamento crítico das pessoas; pelo contrário, programas, músicas ou sites são formulados de um modo que, no momento da “distração”, caíamos em uma acentuação da própria alienação. Ou seja, no momento em que se poderia escapar das ondas sufocantes e homogeinizadoras que vivemos na rotina capitalista, acabamos por ressaltar a ignorância e a inação que este sistema deseja que tenhamos.
Talvez seja os fetiches de mercadorias que sustentem tanto não apenas a indústria capitalista, como também as relações humanas na contemporaneidade. O capitalismo, querendo ou não, não está presente apenas na economia das trocas de mercadorias; infelizmente, ele está, também, no interstício das relações. Humanos são, cada vez mais, tratados como mercadorias. Nesse contexto, o sociólogo Zigmunt Bauman é um dos que estuda os desdobramentos do capitalismo hoje. Um dos termos por ele utilizados é de que as relações, atualmente, encontram-se em um estado líquido. Ou seja, a fluidez é tão forte que as relações não duram: tudo é tratado como mercadoria, se algo não dá certo, simples, troca-se o “produto”.
A indústria cultural, com isso, na qual se baseiam as trocas simbólicas (como estuda outro sociólogo, Pierre Bourdieu), tem um papel bastante significativo quando o assunto diz respeito à alienação. A era da sociedade do espetáculo (aquilo que o situacionista Guy Debord já premeditara na segunda metade do século passado), está, gradualmente, tomando presença na produção cultural, e conseqüentemente na subjetividade das pessoas. Isso, deste modo, alimenta um circulo vicioso, em que instiga-se, cada vez mais, a produção de bens simbólicos que, ao invés de mostrarem uma outra possibilidade da realidade, acaba por fortalecer os limites espinhosos, mas confortáveis, da alienação aclamada pela lógica capitalista.
domingo, 6 de junho de 2010
O conceito de liberdade de John Locke, Rousseau e Stuart Mill
Segundo a concepção individualista do filósofo John Locke, a existência do individuo é anterior a da sociedade e do estado, os homens viviam em um estágio pré-social e pré-político caracterizado pela liberdade e igualdade, o estado de natureza, onde a liberdade, a vida e a propriedade são direitos naturais do homem. No estado de natureza não havia leis que protegessem a propriedade, o que acabava deixando os indivíduos em estado de guerra uns contra os outros, com isso os homens criam um contrato social que realiza a passagem da natureza para o estado civil, criando assim leis de proteção à liberdade.
De acordo com o filósofo Rousseau, no estado de natureza todos os homens nascem livres e iguais, porém a propriedade privada, da origem ao estado de sociedade, criando assim desigualdade entre os homens, ao contrário de Locke, acredita que o estado de natureza não deveria ser mudado e que a propriedade não deveria ser incluída como um dos direitos naturais. Segundo Rousseau o homem nasce bom (bom selvagem), a sociedade o corrompe.
Ao contrario de Locke e Rousseau, o filósofo Stuart Mill não considera a liberdade um direito natural do homem, não faz parte do estado de natureza. Um bom governo propicia o desenvolvimento das boas qualidades dos governados e a liberdade, que é necessária para o desenvolvimento e promotora da diversidade. Com a liberdade o indivíduo age em direção aos seus interesses, desde que não atrapalhe o interesse dos outros. Se o comportamento de um indivíduo atrapalhar o de outro, irá arcar com as conseqüências estabelecidas pela sociedade.
John Locke e Rousseau vêem a liberdade como direito natural do homem, porém Locke via uma necessidade de leis que protegessem a liberdade, a vida e a propriedade, que era excluída e culpada do fim do estado de natureza para Rousseau, criando assim uma sociedade civil, que para Rousseau gerava a desigualdade entre os homens. Stuart Mill não vê a liberdade como um direito natural do homem, acredita que essa ajuda no desenvolvimento da sociedade e deve ser proporcionada por um bom governo.
De acordo com o filósofo Rousseau, no estado de natureza todos os homens nascem livres e iguais, porém a propriedade privada, da origem ao estado de sociedade, criando assim desigualdade entre os homens, ao contrário de Locke, acredita que o estado de natureza não deveria ser mudado e que a propriedade não deveria ser incluída como um dos direitos naturais. Segundo Rousseau o homem nasce bom (bom selvagem), a sociedade o corrompe.
Ao contrario de Locke e Rousseau, o filósofo Stuart Mill não considera a liberdade um direito natural do homem, não faz parte do estado de natureza. Um bom governo propicia o desenvolvimento das boas qualidades dos governados e a liberdade, que é necessária para o desenvolvimento e promotora da diversidade. Com a liberdade o indivíduo age em direção aos seus interesses, desde que não atrapalhe o interesse dos outros. Se o comportamento de um indivíduo atrapalhar o de outro, irá arcar com as conseqüências estabelecidas pela sociedade.
John Locke e Rousseau vêem a liberdade como direito natural do homem, porém Locke via uma necessidade de leis que protegessem a liberdade, a vida e a propriedade, que era excluída e culpada do fim do estado de natureza para Rousseau, criando assim uma sociedade civil, que para Rousseau gerava a desigualdade entre os homens. Stuart Mill não vê a liberdade como um direito natural do homem, acredita que essa ajuda no desenvolvimento da sociedade e deve ser proporcionada por um bom governo.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
A virtude maquiavélica para se manter no governo
Maquiavel, fundador da ciência política moderna, a partir de estudos baseados nos sucessos e fracassos de governos anteriores e contemporâneos a ele, escreveu sobre como realmente os Estados e os governos são, e não como eles deveriam ser. Em sua obra não se pode constatar modelos políticos ideais com o intuito de moldar o Estado a fim de haver maior igualdade de direitos entre as diferentes classes ou camadas sociais. Ao contrário, em sua obra, Maquiavel, apesar de ser republicano, fornece subsídios para o “Príncipe” manter seu poder, independentemente do modelo político seguido (Monárquico, Absolutista, Republicano e etc.). Ou seja, a manutenção do Estado é o ponto crítico de sua teoria – os governantes devem ser virtuosos o suficiente para manter o Estado fortalecido, e quaisquer de suas ações são válidas desde que tenham esse escopo.
Hoje, se analisadas as notícias relativas à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, é possível verificar um exemplo “maquiavélico” de uma ação promovida pelo Estado a fim de se manter fortalecido, visto que se trata da venda da imagem de um governo que cumpre com seus objetivos, nesse caso a consolidação do desenvolvimento do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), que é um dos pontos, apesar de tudo, mais elogiados do atual governo. E por se tratar de um ano de eleições torna-se mais uma arma a ser utilizada pelo partido da situação a fim de promover sua reeleição para que possam cumprir com as metas estabelecidas de crescimento acima dos 5% ao ano em 2011.
Sendo assim, apesar de ter ocorrido mobilizações de algumas comunidades indígenas, que serão desapropriadas com a construção da Hidrelétrica e de ONGs, que se preocupam com o bem-estar do ecossistema local. O governo justifica a necessidade de promover essa ação apoiando-se em um dos pilares da política e da economia atual, que se baseia em altos índices de crescimento ao ano. E, a partir de estatísticas fornecidas, transmite uma imagem de transparência e de que é necessário tomar atitudes como essas para que o Estado brasileiro se consolide no cenário mundial como uma economia forte, ganhando respaldo e maior influência nas questões políticas.
Aí se dá o paralelo com a teoria desenvolvida por Maquiavel. O governo, que tem como finalidade sua estabilização no poder (reeleição), toma de uma atitude que pode vir a prejudicar alguns componentes da sociedade, porém justifica-se que é necessário para que as metas de crescimento sejam alcançadas. Então, por se tratar de algo que atrai os holofotes políticos, as questões sociais e ambientais defendidas pelos indígenas e pelas ONGs acabam perdendo força e ficando na penumbra.
Hoje, se analisadas as notícias relativas à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, é possível verificar um exemplo “maquiavélico” de uma ação promovida pelo Estado a fim de se manter fortalecido, visto que se trata da venda da imagem de um governo que cumpre com seus objetivos, nesse caso a consolidação do desenvolvimento do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), que é um dos pontos, apesar de tudo, mais elogiados do atual governo. E por se tratar de um ano de eleições torna-se mais uma arma a ser utilizada pelo partido da situação a fim de promover sua reeleição para que possam cumprir com as metas estabelecidas de crescimento acima dos 5% ao ano em 2011.
Sendo assim, apesar de ter ocorrido mobilizações de algumas comunidades indígenas, que serão desapropriadas com a construção da Hidrelétrica e de ONGs, que se preocupam com o bem-estar do ecossistema local. O governo justifica a necessidade de promover essa ação apoiando-se em um dos pilares da política e da economia atual, que se baseia em altos índices de crescimento ao ano. E, a partir de estatísticas fornecidas, transmite uma imagem de transparência e de que é necessário tomar atitudes como essas para que o Estado brasileiro se consolide no cenário mundial como uma economia forte, ganhando respaldo e maior influência nas questões políticas.
Aí se dá o paralelo com a teoria desenvolvida por Maquiavel. O governo, que tem como finalidade sua estabilização no poder (reeleição), toma de uma atitude que pode vir a prejudicar alguns componentes da sociedade, porém justifica-se que é necessário para que as metas de crescimento sejam alcançadas. Então, por se tratar de algo que atrai os holofotes políticos, as questões sociais e ambientais defendidas pelos indígenas e pelas ONGs acabam perdendo força e ficando na penumbra.
O governo de George W. Bush como uma soberania hobbesiana?
Para o teórico da política clássica Thomas Hobbes (1588-1679), o homem, em estado de natureza, que vive sozinho e é incapaz de saber o que o outro pensa, está em uma constante prontidão para o conflito com o outro. Um homem em estado de natureza, para Hobbes, ao ressear que um outro o mate, mata este primeiro. Há, com isso, um estado de tensão permanente. Hobbes fala que o homem é belicoso: ele está pronto para a guerra. A vontade de matar o outro, para Hobbes, como característica natural, é impedida, com isso, pela presença do Estado. Falando em termos de George W. Bush, essa lógica de Estado que deveria impedir a morte é invertida – para o Estado que promove mortes.
O contrato social é firmado quando os homens abrem mão de seus estados de natureza; ele cria a possibilidade de lei e direitos. A lei, aqui, atua sobre o direito, limitando-o; a lei é elaborada pelo soberano. O soberano tem a função de deixar os indivíduos vivos, mesmo quando utiliza da morte para manter o contrato. Porém, ao fazer isso, ele cumpre o seu papel de garantir a vida da maioria, mas quebra o contrato com alguns. Estes, neste caso, sentem-se no direito de voltar ao seu “estado de natureza”. Então, quando o governo norte americano decide guerrear com um país que, segundo ele, é considerado “perigoso” para a vida de seus cidadãos, este, na guerra, mata um número enorme de pessoas – do país “inimigo”. Ao fazer isso, quebra-se um contrato, não com os cidadãos deste país, mas com cidadãos daquele país. Isso acaba gerando uma sucessão de guerras e conflitos. Temos, como exemplo, os ataques terroristas como resposta a desentendimentos passados. Geram-se, então, respostas, umas atrás das outras, sempre feitas com a violência, e sempre pautadas na justificativa da garantia da vida de uns em função da morte de outros.
O poder do soberano não pode ser contestado; este é incontestável. O soberano hobbesiano lida com uma visibilidade da morte: ele pode matar sem qualquer justificativa plausível. O estado hobbesiano faz morrer e deixa viver. A guerra passa a ser a justificativa para a manutenção do “bem estar” de alguns. Todavia, para que alguns tenham esse privilégio, é necessário que outros morram (?). Com isso, cria-se uma pergunta: será que são os norte americanos que são os “vilões”, quando declaram guerras e mais guerras, justificadas em sua segurança nacional, ou são os “outros”, quando os atacam, terroristicamente (ou mesmo simbolicamente com slogans do tipo “I hate NY” ou “Odeio muito tudo isso”), também com a justificativa de que são os americanos que ameaçam o bem estar mundial?
Em qualquer época e sociedade, a guerra funciona para manter a sociedade. Quando se escolhe um inimigo, fortalece-se um lado da sociedade. A guerra é um fator de organização social. É pela diferença em relação ao outro que se assemelham alguns. A justificativa da guerra é sempre pautada no risco de que o outro nos mate. É aqui que surge a diplomacia para impedir que caíamos em um imperialismo. Quando um ponto ou uma região do mundo é temida, formam-se vínculos, estabelecem-se parceiros; alianças são feitas. Neste caso, o governo norte americano, ao fazer suas alianças com alguns países, como a Inglaterra, pretende aumentar suas forças, tanto bélicas quanto de apoios às críticas que levariam de muitos.
A guerra é o que fortalece a sociedade, quando, por exemplo, permite que se conheçam as técnicas de batalha dos derrotados, ou mesmo que se obtenham riquezas destes, como, no caso americano, o petróleo iraquiano. A justificativa da morte é utilizada para atingir outras metas, mesmo que esta morte seja simbólica. Derrubar a estátua de Saddam Hussein como uma das primeiras ações depois de tirar o ditador do poder, com isso, significa pôr no chão uma imagem; contudo, ao cair uma imagem, erguem-se outras em seu lugar. A soberania, deste modo, passa a ocupar outros patamares que não apenas a figura de uma única pessoa; ela torna-se incogniscível e não identificável.
O contrato social é firmado quando os homens abrem mão de seus estados de natureza; ele cria a possibilidade de lei e direitos. A lei, aqui, atua sobre o direito, limitando-o; a lei é elaborada pelo soberano. O soberano tem a função de deixar os indivíduos vivos, mesmo quando utiliza da morte para manter o contrato. Porém, ao fazer isso, ele cumpre o seu papel de garantir a vida da maioria, mas quebra o contrato com alguns. Estes, neste caso, sentem-se no direito de voltar ao seu “estado de natureza”. Então, quando o governo norte americano decide guerrear com um país que, segundo ele, é considerado “perigoso” para a vida de seus cidadãos, este, na guerra, mata um número enorme de pessoas – do país “inimigo”. Ao fazer isso, quebra-se um contrato, não com os cidadãos deste país, mas com cidadãos daquele país. Isso acaba gerando uma sucessão de guerras e conflitos. Temos, como exemplo, os ataques terroristas como resposta a desentendimentos passados. Geram-se, então, respostas, umas atrás das outras, sempre feitas com a violência, e sempre pautadas na justificativa da garantia da vida de uns em função da morte de outros.
O poder do soberano não pode ser contestado; este é incontestável. O soberano hobbesiano lida com uma visibilidade da morte: ele pode matar sem qualquer justificativa plausível. O estado hobbesiano faz morrer e deixa viver. A guerra passa a ser a justificativa para a manutenção do “bem estar” de alguns. Todavia, para que alguns tenham esse privilégio, é necessário que outros morram (?). Com isso, cria-se uma pergunta: será que são os norte americanos que são os “vilões”, quando declaram guerras e mais guerras, justificadas em sua segurança nacional, ou são os “outros”, quando os atacam, terroristicamente (ou mesmo simbolicamente com slogans do tipo “I hate NY” ou “Odeio muito tudo isso”), também com a justificativa de que são os americanos que ameaçam o bem estar mundial?
Em qualquer época e sociedade, a guerra funciona para manter a sociedade. Quando se escolhe um inimigo, fortalece-se um lado da sociedade. A guerra é um fator de organização social. É pela diferença em relação ao outro que se assemelham alguns. A justificativa da guerra é sempre pautada no risco de que o outro nos mate. É aqui que surge a diplomacia para impedir que caíamos em um imperialismo. Quando um ponto ou uma região do mundo é temida, formam-se vínculos, estabelecem-se parceiros; alianças são feitas. Neste caso, o governo norte americano, ao fazer suas alianças com alguns países, como a Inglaterra, pretende aumentar suas forças, tanto bélicas quanto de apoios às críticas que levariam de muitos.
A guerra é o que fortalece a sociedade, quando, por exemplo, permite que se conheçam as técnicas de batalha dos derrotados, ou mesmo que se obtenham riquezas destes, como, no caso americano, o petróleo iraquiano. A justificativa da morte é utilizada para atingir outras metas, mesmo que esta morte seja simbólica. Derrubar a estátua de Saddam Hussein como uma das primeiras ações depois de tirar o ditador do poder, com isso, significa pôr no chão uma imagem; contudo, ao cair uma imagem, erguem-se outras em seu lugar. A soberania, deste modo, passa a ocupar outros patamares que não apenas a figura de uma única pessoa; ela torna-se incogniscível e não identificável.
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